terça-feira, 18 de junho de 2013

Jairo Lima
Indigenista Especializado

Sistema tradicional de reunião, tranquilidade e conforto. Foto: Joaquim Tashka
A discussão envolvendo o pagamento por serviços ambientais (REDD) pelo reconhecimento e serviços prestados pelas comunidades indígenas na manutenção de suas áreas vem tomando força nos últimos tempos tendo, de um lado, os que contestam duramente esta proposta e, de outro os que acham ser uma iniciativa positiva e que deve ser implementada o mais breve possível.
No Acre, algumas discussões vem se condensando cada vez mais, com algumas comunidades já realizando discussões mais amplas, refletindo e construindo propostas. Entre estas comunidades que já vem consolidando estas reflexões citam-se os Kuntanawa (akdeia Kuntamanã) e os Yawanawá (aldeia Mutum) como os maiores defensores dessa proposta de pagamento, porém, dentro de uma política construída pelos próprios povos indígenas interessados, algo que seja de "dentro par fora e não simplesmente imposto aos povos indígenas, estamos buscando o caminho da sustentabilidade" segundo reflete a liderança Joaquim Tashka Yawanawá. 
Haru Kuntanawa. Foto: Arquivo pessoal

Para Haru Kuntanawa "na minha visão essas propostas são positivas porque se mantemos a floresta em pé e tiramos nosso sustento com sabedoria estaremos recebendo o que é de direito, podemos receber este apoio e transformar isso em condições melhores de sustentação para a comunidade... mas a comunidade deve receber pelo que realmente vem fazendo, que vai desde a transmissão dos conhecimentos até os projetos e práticas de manutenção de sua florestas e seus costumes".
A FUNAI, por sua vez, vem tomando conhecimento sobre as diferentes políticas e  propostas em debate nas comunidades indígenas onde faz presente. Nesse processo de acompanhamento vem-se incentivando as Coordenações Regionais para acompanharem as discussões e reflexões que vem sendo realizado em suas jurisdições.


Além das discussões, esta visita a esta Terra Indígena, trouxe mais um momento de troca de experiencias e reconhecimento das demandas e necessidades das comunidades, com a visita e apresentação da CR Juruá em todas as aldeias, onde foi possível ouvir e também atualizar as lideranças sobre o processo de implementação da Coordenação Regional e, também, sobre as lutas, avanços e desafios vividos pelos povos indígenas atualmente no Brasil.
Assim, no período de 12 a 14 de junho a CR Juruá, através de seu coordenador regional esteve presente na "ficina de levantamento das potencialidades para desenvolvimento de uma proposta de pagamentos por serviços ambientais" realizada na aldeia Mutum, do povo Yawanawá, Rio Gregório . Para o coordenador regional, Luiz Valdenir, a  participação já neste primeiro momento de discussão "é importante acompanhar estas discussões desde o inicio, pois assim fica mais fácil de se colocar diante da proposta, quanto ao posicionamento da FUNAI quanto a isso. A Coordenação Regional do Juruá não deve ficar alheia a estas discussões, pelo contrário, devemos estgar presentes e acompanhar desde o inicio pois isso vem a  facilitar nossas reflexões e posicionamentos quanto ao tema".
Prof Nani apresentando as idéias. Foto Joaquim Tashka
Como a espiritualidade tradicional nunca fica de fora destes encontros, esta visita trouxe momentos muito especiais de interação com as práticas ritualísticas dos Yawanawá, com o bom rapé e noites de Uni. 
Pajé Tata e Joaquim Tashka. Foto:Laura Soriano
Nas palavras de Joaquim Tashka estes momentos trazem  "pensamento e vibrações positivas" e completa "que os espíritos da floresta ilumine nossa viagem espiritual e nos mande muitas visões para iluminar nossos caminhos hoje e sempre!"
Assim, em mais um acompanhamento e experiência vivida pela CR Juruá estamos estendendo a cada dia nosso raio de ação, consolidando a implementação desta regional e se fazendo presente, dentro de nossas limitações, onde somos demandados.
O papo sobre esta questão de pagamentos por serviços ambientais não acaba por aqui, pelo contrário, inicia-se neste texto, não no intuito de definir um posicionamento mas, sim, de informar e divulgar o que vem sendo discutido e desenvolvidos pelas comunidades quanto a este tema.
Em julho a discussão é junto ao povo Kuntanawa.
Mankae!!!
Jairo Lima
Indigenista Especializado
Chefe da Divisão Técnica - CR Juruá
FUNAI/CZS
(68) 92129880/ 99223639/81149839
sparks: jairo.lima / skype: jairojoselima

segunda-feira, 17 de junho de 2013

CARTA - A CARA E A VOZ DA AMAZÔNIA



Carta a cara e a voz da Amazônia, unidos pela vida de nossos povos e do planeta terra

Aos lideres Religiosos e chefes de estados

 Senhoras e Senhores autoridades destes países, escrevemos esta carta para pedir vossos apoios e compreensão pelos fatos  reais que estão ocorrendo em nosso pais, mas antes de qualquer interpretação queremos que nos olhem como seres humanos filhos de Deus e da nossa mãe terra por isso somos religiosos, também porem nossas religiões não são escritas em papeis e sim na floresta, terra, vento, sol, lua, estrelas, rios e mares, elementos que representam a força e o poder de Deus o criador que é interpretado por vários nomes conforme cada idioma.
Nosso Governo é formado pela natureza e regido pela força das estações dos ciclos astrais, respeitamos todos os governos da terra na sua forma de atuação com suas nações, como também respeitamos todas as culturas e religiões, e por este motivo gostaríamos também que respeitassem nossa forma de vida. A floresta amazônica em si é  auto-suficiente, com a maior potencia de sustentabilidade do planeta, aqui as sementes nascem e crescem em liberdade se tornando lares e alimentos para nos e os animais que aqui vivem.
Queremos, portanto, lembrar os anos de 1500 quando os primeiros colonizadores portugueses chegaram ao Brasil e os europeus vieram para a America do sul e America latina e nos encontraram já vivendo a milhares de anos nestes territórios, na Amazônia, e em outros biomas.
Sabemos as responsabilidades da coroa imperial espanhola e portuguesa que criaram uma lei especifica para dar o direito de nos destruir e essa ação também teve a aprovação da igreja católica. Naquela época, da colonização, era para falar do nome de cristo e de Deus. Naquele século morreu muita gente, o que é até perdoável, pois não compreendíamos a língua de vocês, não falávamos espanhol e nem tão pouco o português, mas hoje não perdoaremos mais a repetição desses atos atrozes e violentos que dizimam nosso povo. Queremos saber por que isso ainda está acontecendo e qual é a explicação que vocês tem a nos dar...

Portanto pedimos a todos os lideres mundiais e governantes, ao Papa Francisco, líder da igreja católica que nos ajudem a resolver este problema, que esta acontecendo no Brasil. Sofremos maltratos. O governo brasileiro ignora a nossa presença e os direitos constituídos dos povos indígenas. Fazem de conta que não existimos. Somos lembrados apenas no dia 19 de abril, data em que eles comemoram talvez a destruição de nossas vidas. Somos lembrados também, quando querem promover seus interesses particulares, nos pedindo para dançar nos eventos festivos. Depois disso somos esquecidos, e o governo passa a nos tratar como um problema, como dados estatísticos, obstáculos para o chamado desenvolvimento socioeconômico.
De acordo com o relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) sobre a violência que atinge os povos indígenas, somente entre 2003 e 2011 foram assassinados 503 índios, dos quais 273 são do povo Guarani Kaiowá.
E no dia 30/05/2013, um parente Oziel Terena, morreu devido a disputa e defesa das terras em Mato Grosso do sul; no dia 04/06/2013 mais outro Terena foi baleado pelo mesmo motivo e continua internado. Vale lembrar também a morte de mais um guerreiro: Adenilson Munduruku que foi morto por policiais, numa ação criminosa, quando estava defendo sua terra.
E os direitos territoriais indígenas que existe na Constituição Brasileira, não estão sendo respeitados, cada vez mais fazendeiros e usurpadores querem tomar posse de nossas terras e os governantes não tomam providencia imediata em relação a isso. Na maioria das vezes as decisões são voltadas para favorecer os ruralistas, raramente alguma decisão governamental favorece os indígenas. Vale destacar a intensa atuação da senadora brasileira Kátia Abreu, fiel defensora dos interesses dos ruralistas, que nos trata como invasores de terra.
E no Pará, conflitos entre indígenas e policiais estão se intensificando por causa da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, estão mandando tropas para impedir ocupação do local por índios e apoiadores; e já está mais do que comprovado que a Usina prejudicará populações ribeirinhas, indígenas e o meio ambiente.
Uma situação que também é delicada é a da região norte com a barragem do Rio Madeira Girau a qual irá alagar uma enorme área de floresta; justamente onde foi comprovada a existência de grupos indígenas não contactados pela civilização socialista e capitalista.
Outro grande problema que apontamos é o das fronteiras do Estado do Acre, no Brasil, que se estende até o Peru e a Bolívia  Com os projetos madeireiro,  exploração de petróleo e gás natural que esta prestes a ser leiloados e a ferrovia que vai ligar o Peru ao Brasil (trecho de Cruzeiro do Sul no Acre a Pucallpa no Peru) sangrando a nossa floresta, comunidades indígenas e extrativistas que vivem ali entre os grupos de índios também não contactados.
Suplicamos ajuda de outros países porque aqui no Brasil, não temos atenção do Governo Brasileiro, somos considerados estrangeiros no nosso próprio país. E estão aprovando leis que condenam e invalidam os nossos direitos. Já somos poucos, levamos a vida precariamente e ainda querem nos tirar o direito a vida e a terra...
Também, estamos sendo prejudicados com as reformas para a copa do mundo de 2014, eles invadiram e nos obrigaram a sair de forma truculenta de nossa aldeia Maracanã, onde se construiu o primeiro museu do índio da America Latina, que existe há mais de 70 anos. Um lugar que guarda a memória do nosso povo, e tem valor cultural muito sagrado. Nos tiraram de lá para transformar o espaço do Museu em estacionamento para copa do mundo de 2014 e nenhuma autoridade quer devolver para nós!
Senhores e senhoras, autoridades estrangeiras, vosso apoio é a nossa única esperança de encontrarmos possibilidades de resolver esta situação em paz, não queremos apenas existir em livros, queremos viver em harmonia com os dias de hoje, sem perseguições territoriais, viver em paz é tudo que queremos, nos deixem viver nas nossas florestas com nossos rios livres sem barragens para que continuemos tirando nossos sustentos, deixem nossas florestas em pé, elas são os números de nossas identidades, deixe-nos também termos a oportunidade de ver nossos filhos crescerem. A flora e a fauna é a nossa única maneira de viver, não queremos comprar água engarrafadas para beber, até porque não criamos moedas de valor, queremos beber águas de fontes limpas e puras. Foi assim que aprendemos com a educação que nossos ancestrais nos deram a milhares de anos atrás.
Queremos ainda dizer que os nossos valores e saberes ancestrais a sociedade não conhece e os valores da floresta que vocês chamam de mata  são fundamentais para o equilíbrio da humanidade. A floresta é a vida!
Por fim pedimos que seja feito um tratado Internacional entre os chefes de estados,  presidentes, reis e rainhas, com o Papa Francisco e nós lideres Indígenas indicados pelas nossas nações para que haja a paz nesta terra e a proteção de nossos povos. Não desenvolvemos armas para tirar vida, nossas armas são utilizadas apenas para tirar nosso sustento da caça e pesca para alimentar nossas famílias, sabemos que não dá para defender nossos direitos com arco e flechas e sim com o cumprimento das leis e dos acordos internacionais nos quais o Brasil  é signatário.
Temos muito a contribuir com vocês para melhorar o sistema de vida da humanidade e de toda diversidade biológica do planeta, a Conservação e proteção das florestas. Os governos têm que entender  que estamos no pulmão do mundo. Pedimos que vocês apóiem nossa causa para que as florestas sejam protegidas.
Temos muita preocupação com o rumo que a humanidade está tomando. Não podemos mais ficar em silencio. Temos que fazer algo para que todos possamos viver em paz. Esse mundo é um só. Somos um mesmo povo. E o Criador observa isso...irmão atacando outro irmão; isso não pode continuar.
Clamamos pela paz na terra e queremos ser respeitados do jeito que somos; continuar vivendo da maneira mais simples que aprendemos e assim garantir as floresta vivas, os rios correntes, a terra fértil e protegida pelos direitos humanos e ambientais.
Encerramos esta carta pedindo que todos os lideres assinem essa Carta de Apoio aos Povos Indígenas nos apoiando e convoquem uma audiência com a presidente brasileira Dilma Roussef e demais órgãos que estão violando nossos direitos para que possamos firmar este compromisso como forma de garantir nossa proteção e as demarcações de nossos territórios, como também nos ajudar a recuperar nossas tradições e cultura que foram perdidas pela discriminação e preconceito que nosso povo sofreu e ainda sofre aqui no Brasil. Queremos agregar os valores desta terra e fortalecer a vida em conjunto com todas as nações do mundo.
Agradecemos muito a atenção de todos e de todas as autoridades que receberem e lerem esta carta.

 Atenciosamente,
Povos e Organizações da Amazônia Brasileira.

Carta escrita por Haru Kuntanawa e Ysani Kalapalo.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Aliança dos Povos da Floresta













O encontro  'Aliança dos Povos da Floresta' foi realizado ente os dias 09 a 11 de novembro de 2011, organizado por Haru Kuntanawa com o objetivo de UNIR  os povos da floresta indígenas e extrativista para retomar e fortalecer a aliança em prol da proteção da cultura,  natureza e o uso sustentável dos recursos naturais.

A reunião visou  quatro temas principais: Projeto "Corredor Pano" especificamente sobre suas linhas de ações voltadas ao fortalecimento cultural e ambiental.; Retomada da Aliança dos Povos da Floresta; inclusão e estratégia de participação dos povos indígenas na Conferência Rio+20 com seus conceitos de relações harmônica com a natureza e proteção da bio diversidade; discussões sobre os impactos ambientais que serão causados pelos projetos de exploração de madeira, petróleo, ferrovias e estradas. Foram  convidadas organizações regionais dos movimentos indígenas e extrativistas, movimentos sociais, organizações governamentais e não governamentais, parceiros nacionais e internacionais. 
Durante a reunião abordamos a luta do passado, os resultados alcançados e as ações do presente em prol da vida dos povos da floresta.

Segundo as lideranças o projeto Corredor pano tem característica única, onde os povos indígenas do tronco lingüístico Pano tem a participação ativa e todas as suas opiniões são fundamentais para a continuidade do projeto. O festival cultural corredor pano é uma ação que estar tendo uma repercussão positiva, onde os povos se encontram não somente para as praticas culturais como também para discutir e compartilhar as suas problemáticas e  desafios. Foi firmado entre os indígenas que o III Festival cultural corredor pano será realizado em Kuntamanã  com uma feira de sustentabilidade dos povos, como forma de divulgar os seus produtos auto sustentável de forma harmônica com a natureza, "vivendo com a floresta em pé"  é o dilema do projeto corredor pano.

Sobre o a Alianças dos povos da Floresta foi firmado que será necessários outros encontro para definição das demandas, tendo em vista que foi abordado as conquista do passado e seria necessário outros encontros para definir as ações do presente, porque as demandas são enumeras.  





Apoio:



Parceiros: Associação Sócio Cultural e Ambiental Kuntamanã- ASCAK, ICMBIO, Deracre, Funasa


      Reunião










                                                                Iniciativa "Plantando Vida"
Realizado na reunião como forma de conscientização das pessoas que precisamos da floresta em pé, e para conseguir alcançar estes objetivos é necessário "Plantar vida"


































































Fotos de Barbara Veiga.