O nome 'Shanenawa' é composto pelas formas shane (espécie de pássaro de cor azul) e nawa (povo). Assim, eles seriam o “povo pássaro azul”. O Povo Shanenawa estão localizados à margem esquerda do rio Envira, no Município de Feijó. Assim como outros povos foram vítimas da violenta causada pela ocupação da região em função do extrativismo de caucho e seringa.
No passado o processo do desenvolvimento da economia regional, foram trabalhar com a criação de gado e outros bens alimentícios , extração de borracha e à atividade de amansamento dos índios “brabos” do alto rio Envira.
Após alguns deslocamentos os Shanenawa passaram a viver em uma porção de terra que mais tarde foi homologada com o nome Katukina/Kaxinawa. Isso se deve a um engano, pois eles foram confundidos com índios Katukina e chamados como tal. Com receio de perder o direito sobre suas terras, tendo em vista todo o histórico de violência e injustiça que sofreram, resolveram não desfazer o mal entendido. Estudos lingüísticos realizados na década de 1990 comprovam esta situação, visto que a língua shanenawa é da família Pano e não Katukina.
Língua
A língua Shanenawa pertence à família Pano e é falada pelos mais velhos. Apesar de ter sido proibida na época em que trabalharam nos seringais, os Shanenawa jamais a esqueceram.
Os jovens e as crianças, embora entendam o idioma de seus pais, conversam entre si exclusivamente em português. Entre os Shanenawa alguns membros mais velhos, aliados a jovens na luta pela manutenção da identidade cultural do povo procuram sempre se comunicar em Shanenawa.
As escolas das comunidades vêm sendo um aliado forte, como espaço de aprendizagem da língua, em oposição ao processo de escolarização na cidade, que ignora não apenas o idioma, mas os modos de vida indígenas.
Cultural –
O Mariri e as brincadeiras
Os rituais tradicionais são bem parecidos com os outros povos do trongo linguístico pano, como o mariri , uma dança que não tem data para acontecer. Qualquer membro do grupo pode participar da dança, desde que ensaie as cantigas ensinadas por seus antepassados. Para o mariri, os membros pintam-se com urucum e jenipapo e vestem um saiote feito com tiras de envira. Nas danças de mariri são registrados como o ato de fantasiar-se em que os índios interpretam como “lobisomem”. Geralmente, um dos homens cobre-se de galhos de árvores e folhas de bananeira e entra no meio dos dançarinos, assustando a todos.
Outra atividade que ocorre ainda dentro dos eventos do mariri é a “brincadeira da cana-de-açúcar”. Esta se desenrola em torno de um dos homens que disputa um pedaço de cana-de-açúcar com uma ou mais mulheres. Às mulheres é permitido usar todas as forças para arrancar o pedaço de cana do homem, mas estes não podem agir com violência física, apenas verbal.
Outra brincadeira muito apreciada é a do “pau de sebo”. Os índios passam sebo em um pau muito comprido fincado no chão em forma de estaca e, na ponta, colocam uma prenda. Aquele que conseguir chegar ao topo sem escorregar, leva a prenda. Não se sabe se os índios aprenderam a brincadeira com os não-índios ou vice-versa
Entre outras atividades, os Shanenawa praticam, ainda, o tiro de arco e flecha e a natação como competição, costumes muito apreciados e mantidos com orgulho por esse povo. Praticam também o futebol. Para esse esporte, possuem pequenos campos nas aldeias que aos sábados são bastante utilizados. Disputam jogos com times formados por jogadores das próprias aldeias ou, em ocasiões festivas, enfrentam equipes de outras etnias.
Moradia
Com a influencia deixada pelo não índios suas construção são basicamente de madeira trabalhada e telhado de alumínio semelhantes às dos não-índios e que são bastante vistas na zona urbana acreana, ainda predominam nas aldeias indígenas casas inspiradas na arquitetura dos seringueiros, do tipo palafita, feitas com madeira a cerca de 40 centímetros de altura do solo e cobertas com palha de envira armada.
No passado moravam em cupixauas, que eram grandes construções indígenas feitas de palha, onde geralmente moravam todas as famílias de um clã. A cozinha é o local mais exposto da casa e é nela que se recebem as visitas. As palhetas de amassar banana e macaxeira, os utensílios domésticos são semelhantes aos utilizados por não-índios e os alimentos são preparados em fogo à lenha.
Atividades econômicas e alimentação
Os Shanenawa dedicam-se à economia de subsistência e para complementar a alimentação, compram alguns itens na cidade. Fazem roçados em locais próximos às aldeias, escolhidos em pontos adequados, mais altos e bem drenados, e lá cultivam principalmente macaxeira, banana, milho e amendoim. Em uma escala menor, também plantam batata-doce, inhame, abóbora, cará, cana-de-açúcar e, ainda, algumas frutas como mamão e melancia. Além disso, consomem frutos que coletam, como é o caso do caju, da manga, do ingá, entre outros. Nos meses de dezembro até abril é possível encontrar açaí, que é coletado em quantidade e com grande freqüência, sendo apreciado por todos os Shanenawa. O coco jaci também é muito apreciado, e é coletado constantemente e comido cru ou assado. Sua produção é maior nos meses de fevereiro e março. Os temperos mais usados são a pimenta malagueta tradicional, o sal, o urucum, o alho e principalmente a pimenta do reino, que é parte integrante da culinária regional acreana.
Os Shanenawa também criam pequenos animais. O único alimento de manufatura artesanal é a farinha, muito apreciada e produzida em pequena escala, para atender ao consumo doméstico.
A alimentação é composta de peixe, macaxeira e mingau de banana. A influência da culinária não-indígena está no uso do sal e no consumo de arroz, feijão e carnes diversas (principalmente de pato), alimentos comprados geralmente nos mercados de Feijó, bem como no preparo de certos pratos, como as carnes, por exemplo.
Roça
O roçado é bem diversificado, possuindo grande variabilidade de espécies e de variedades relacionadas a cada tipo de alimento. Plantam, sobretudo, milho, banana, macaxeira, inhame, abóbora, batata doce e arroz. Em alguns casos a roça é derrubada conjuntamente e depois de queimada é dividida pelas famílias nucleares para realizarem o cultivo.
Caça
A caça na região é escassa, mas quando possível se restringe à captura de animais e aves de pequeno porte, como lagartos, rãs, entre outros. Há algumas estratégias distintas para aquisição de carne: práticas tradicionais de caça, criação de pequenos animais domésticos – ocasionalmente o abate de um boi, mais comum para festas ou comemorações – ou a compra de peixe ou carne de porco e de boi na cidade.
Em épocas distintas são realizadas excursões a locais próximos ao rio Envira, onde residiram anteriormente, para promover caçadas e pescarias.
Entre os Shanenawa não se usa mais cachorro para auxiliar nas caçadas, o que melhorou gradativamente a aproximação da caça. Cada aldeia tem seus próprios barreiros (locais onde os animais vão beber água principalmente na época das chuvas e lamber os barrancos em busca de sal). A caça é mais promissora na época das chuvas, principalmente nas estiagens mais ou menos curtas. Nessas épocas os rastros são mais fáceis de serem identificados e também há abundância de alimentos.
Pesca
A pesca também faz parte de seus costumes, mas como os peixes do rio Envira estão escassos na área em que habitam, essa atividade tem sido bastante reduzida em certas épocas do ano. Há notícias, contudo, de que as lideranças têm entrado em contato com especialistas em Engenharia de Alimentos a fim de executarem um projeto que faça com que o Envira volte a ser um rio de águas piscosas. Na pesca, a tarrafa é o instrumento preferido, mas às vezes utilizam-se do timbó, que é uma substância jogada no rio para fazer com que os peixes fiquem atordoados e subam à superfície, onde serão facilmente coletados.
Caiçuma
No que se refere às bebidas, a mais apreciada pelos Shanenawa é a caiçuma (termo de provável origem no Nheengatu) que pode ser de macaxeira ou de banana. O preparo desta última é muito simples: após cozinhar e amassar a banana com água, basta deixar fermentar por pouco tempo. Já a caiçuma de macaxeira, além de passar pelo processo de cozimento, é mascada, coada e fermentada por pelo menos 24 horas. O teor alcoólico dessas duas bebidas é bastante baixo, já que são consumidas imediatamente após o preparo. Entretanto, também é comum o consumo da caiçuma azeda, que tem um alto teor alcoólico, visto que seu tempo de fermentação é superior a três dias.
Restrições alimentares
Ainda que não façam mais com regularidade, alguns períodos da vida dos Shanenawa são fortemente marcados pelas restrições a certos alimentos, como é o caso das mulheres grávidas e daqueles que eram treinados para serem pajés. Estes últimos passavam um grande período na floresta, e nesta ocasião que durava um ano e seis meses, se alimentavam apenas milho assado e tomavam caiçuma de milho. Quando bebiam umi (vegetal da floresta), alimentavam-se de coisas leves, como milho, banana e mandioca assada. O vegetal ensina como curar uma doença e a partir daí iam se formando pajés definitivos na comunidade.
Tradicionalmente, quando a mulher está gestante, procura comer banana, mandioca, farinha, inhame, batatas, carne, peixe, mamão e outras frutas. Só evita comer carnes mais remosas. Durante o período de amamentação reforça a dieta com caiçuma de milho, macaxeira, banana e caldos diversos.
Faz parte de seus costumes não comerem carne de urubu, preguiça, mambira, mucura, cobra e alguns frutos do mato. Muitas pessoas não comem carne de ovelha e os mais velhos não comem carne de gado, pois dizem que dá dor de cabeça e febre, pois o gado é criado no sol do campo.
Artesanato
Os homens têm o costume de fabricar conjuntos decorativos de arco e flecha para venderem fora do município. As mulheres fazem colares, pulseiras, saias, chapéus, cestas e vasos de cerâmicas. A produção é intermediada para fins de comércio pela Associação Shanenawa da Aldeia Morada Nova (ASAMN), com o intuito de auxiliá-los no processo de distribuição e venda destes produtos.
Organização social e política
A organização familiar é baseada em núcleos compostos por um casal de velhos, do(a)s filho(a)s solteiro(a)s, dos filhos casados e suas esposas, netos e filhos de criação.
Estão organizados em cinco clãs: Waninawa (povo da pupunha), Varinawa (povo do sol), Kamanawa (povo da onça), Satanawa (povo da ariranha) e Maninawa (povo do céu). Os filhos são membros do clã da mãe e como regra, em geral, só podem casar com indivíduos pertencentes ao mesmo clã. Mas isso, às vezes, não acontece, já que há muitos matrimônios interétnicos e de índios com não-índios. As famílias são monogâmicas, embora haja notícia de que no passado o chefe tivesse o costume de ter até três mulheres.
Os Shanenawa possuem uma organização centralizada na figura do chefe, cujo cargo é hereditário. À liderança cabe o dever de se dedicar inteiramente aos interesses da comunidade representando-a em contatos com autoridades públicas dos não-índios. O chefe tem poder de decisão, embora atualmente as decisões mais importantes sejam tomadas de forma coletiva em reuniões com outros importantes membros do povo.
Outras formas de organização
Os Shanenawa, juntamente com outras etnias da região, criaram uma organização que é muito atuante na defesa dos interesses indígenas: a Organização dos Povos Indígenas do Rio Envira (OPIRE). Além disso, esses índios aparentemente estão engajados nos processos políticos nacionais, sendo que um número considerável deles está filiado a partidos políticos.
Nominação
As crianças recebem nomes em sua língua materna de acordo com algumas regras bem definidas. Entretanto, todos possuem um nome não-indígena devido ao registro civil. Ao que parece, essa obrigação civil não os aborrece, pois parecem gostar dos nomes de outras origens. É notável, aliás, que utilizam mais o nome não-indígena, mesmo em situações informais. A atribuição do nome em português não obedece a nenhum padrão. Qualquer pessoa pode sugerir um nome para a criança recém-nascida, o qual, em geral é bem recebido, sobretudo se for inédito na aldeia. Ao primeiro nome acrescenta-se o sobrenome português do pai e da mãe.
Já no caso do nome indígena, existem regras muito rígidas para sua escolha, pois é necessário que os nomes se repitam através das gerações e pertençam a um conjunto comum que os Shanenawa preservam. Isto significa que os pais escolhem para os filhos os nomes de seus próprios parentes segundo orientações bem definidas.
Gostei muito. Estava precisando
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